Em 1925, após retornar de sua viagem à Europa, Irineu Marinho renunciou à presidência de A Noite. Antes de viajar, o jornalista tinha vendido suas ações para seu sócio Geraldo Rocha com a garantia de recomprá-las na volta. A combinação não foi cumprida, e uma assembleia de acionistas alterou os estatutos da empresa e elegeu novos diretores para o jornal. Irineu foi confirmado como presidente, mas seus poderes foram retirados. Inconformado, decidiu criar um novo vespertino. Nascia, assim, O Globo.
Em menos de cinco meses, Irineu Marinho arrumou o local, montou as oficinas e organizou a redação de O Globo. Mas ele não estava sozinho. Ficaram ao seu lado, trinta e três profissionais de A Noite. Entre eles, estavam velhos companheiros, como Antônio Leal da Costa, Herbert Moses, Eurycles de Mattos, Horário Cartier, Bastos Tigre, Eloy Pontes, Henrique Gigante e Brício Filho. Irineu Marinho contou ainda com o apoio decisivo do seu filho primogênito Roberto, então com 20 anos.
A primeira sede de O Globo ficava no prédio do Liceu de Artes e Ofícios, no Largo da Carioca. “Tudo era velho. Adaptar esse prédio para o seu novo destino exigiu um longo e penoso esforço”, relembraria Roberto Marinho anos depois. Mas esforço e determinação nunca faltaram a Irineu Marinho. Nem ao filho Roberto. Foi nessas instalações precárias que ele começou a exercitar o jornalismo. E ali trabalharia por 29 anos, até a mudança de O Globo para a Rua Irineu Marinho, em 1954.
Roberto Marinho se dedicou inteiramente ao jornal O Globo desde a sua fundação. Ajudou o pai a escolher os primeiros equipamentos para a montagem do vespertino, como a máquina de gravura que, num quintal em Vila Isabel, servia de poleiro para galinhas: “Não foi difícil a transação e, recuperada, a velha máquina começou a trabalhar para O Globo”, relembrou ele. Depois, foi adquirida uma rotativa Hoe, de fabricação norte-americana, que havia pertencido ao exército britânico.
Para a escolha do nome do novo jornal de Irineu Marinho, foi lançada uma campanha popular. Os três títulos mais votados foram Correio da Noite, O Globo e Última Hora. O Correio da Noite já pertencia a outra pessoa. Por isso, foi adotado O Globo, que havia ficado em segundo lugar com 3.080 votos. O título já havia sido sugerido a Irineu pelo jornalista Eloy Pontes, que na época se recordou de um antigo jornal carioca, fundado e dirigido por Quintino Bocaiuva nos tempos da propaganda republicana.
Os preparativos para o lançamento de O Globo foram divulgados em um boletim. As notícias também eram transmitidas pela Rádio Sociedade do Rio de Janeiro e pela Rádio Club, que tocavam concerto de música popular em homenagem ao novo jornal. Outra ação foi a composição e impressão do foxtrote O Globo. A música foi executada e teve a partitura distribuída na cidade e no interior do estado.