A mais inocente vítima
A imagem de uma ave tentando despregar-se do mar de petróleo, com sua vida e seu mundo destruídos, foi uma das que mais impressionaram a opinião pública, nos últimos episódios da guerra no Golfo.
Parece estranho que o drama de um bicho tenha prevalecido sobre tantos quadros pungentes de cidades e pessoas atingidas pelos mísseis.
A explicação só a poderia dar um poeta, Carlos Drummond de Andrade, que num de seus poemas recomendava orar pelos animais, cada vez mais ameaçados por nós, os anjos da guarda que a natureza divina lhes deu.
O que sentimos diante da televisão não era portanto apenas dó, era remorso.
Roberto Marinho. O Globo, 30/01/1991